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O que é ciência?

Seria possível colocar tranquilamente todas as áreas científicas dentro do campo de uma única Ciência, sem encontrar diferenças, atritos e contradições? A Ciência tem uma única finalidade ou cada área tem seu caminho? Existem princípios básicos e comuns a todas as áreas científicas? Por que algumas áreas criticam tanto as outras? Como a Psicologia se coloca nessa discussão? Onde a Psicanálise se insere?
Etimologicamente, a palavra Ciência “vem do Latim SCIENTIA, ‘conhecimento’, de SCIRE, ‘conhecer, saber’, que provavelmente no seu início significava ‘distinguir, separar coisas’, de uma raiz Indoeuropeia SKEI- ‘cortar, separar’” (Origem das Palavras), ou seja, Ciência é um saber produzido em função da distinção das coisas. Na medida em que se distingue uma coisa da outra, produz-se saber a seu respeito.
Somando o senso comum ao conhecimento científico, Ciência serve tanto para indicar um ramo de produção de saberes e o fato de alguém saber/ter conhecimento sobre alguma coisa. Entretanto, nem todo saber é A Ciência, e isso coloca dificuldades, pois há saberes que são classificados como A Ciência e aqueles classificados como Não-Ciência. Dessa forma, há Ciência em seu sentido mais amplo, que engloba todo tipo de saber, em termos de ter conhecimento de algo, ter saber sobre algo, e existe Ciência enquanto campo de pesquisa e de produção de saber, que se utiliza de diversos critérios, dentre eles, linguagem formal, rigorosidade, racionalidade, utilização de métodos e testes de validade etc.
Nessa segunda concepção de Ciência, nós encontramos diversas classificações, dentre elas, a classificação quanto à distinção das Ciências em “Formais x Empíricas” e, dentro das Empíricas, entre “Ciências Naturais X Ciências Sociais”.
Essa divisão facilita a compreensão da distinção, no interior do empirismo, entre duas formas de saber: aquilo que é natural e aquilo que é social. Então surge um novo problema, pois como seria possível dizer “A Ciência” quando “A Ciência” não consegue encontrar uma categorização única para as áreas que a compõem?
Retirando as Ciências Formais da conversa, o que resta é o campo do empírico, e a esse respeito, o problema que se encontra é o da relação entre construção do conhecimento e dos métodos dentro de uma área, seja ela chamada de natural ou social. Como encontrar um fio condutor que encaminhe todos os trabalhos?
Provavelmente você já deve ter encontrado por aí alguém discutindo que determinadas áreas não são Ciências, mas pseudociências, na medida em que não conseguem manter o método científico. “Não ser ciência”, “ser pseudociência”, “não ter o método científico” são todas expressões que apontam para a diferenciação de lugares, indicando que há um grupo que está dentro e outro que está fora de determinada classificação. Mas qual é essa classificação?
No grego, “pseudo” é enganar, mentir, mentira, falso, mentiroso (Obtido de Dicionário “Radicais gregos e latinos do português”, de Geraldo de Moura, Vitória, EDUFES, 2007). Colocar “pseudo” como radical de uma palavra torna aquilo a que referencia uma mentira. Pseudociência é uma Ciência de mentira, uma falsa Ciência, ou algo que diz ser, mas não é Ciência.
Quando se fala em “pseudociência” pode-se englobar desde áreas que não são Ciências, como as religiões, até áreas que não fazem parte do bojo de determinado ramo da Ciência, como, por exemplo, os trabalhos das Ciências Sociais que não se encaixam nas formas de validação do conhecimento feito nas Ciências Naturais. Esse é um problema no qual a Psicologia se enquadra, e onde se encontra também o lugar de posicionamento da Psicanálise.

Ciência e Psicologia

A Psicologia é uma Ciência e uma Profissão que se construiu na interface de diversas outras Ciências, e isso a coloca em uma espécie de contradição de existência. O trabalho apresentado por George Canguilhem, médico e filósofo, com o título “O que é a Psicologia?” (1956), aponta essa contradição:
“Dizendo da eficácia do psicólogo que ela é discutível, não se tem a intenção de dizer que ela é ilusória; quer-se simplesmente observar que essa eficácia é, sem dúvida, mal fundamentada, enquanto não se tenha prova de que ela é mesmo devida à aplicação de uma ciência, isto é, enquanto o estatuto da psicologia não seja fixado de tal maneira que se deva considerá-la como mais e melhor que um empirismo compósito, literariamente codificado para os fins de ensino. De fato, de muitos trabalhos de psicologia, retira-se a impressão de que eles misturam a uma filosofia sem rigor uma ética sem exigência e uma medicina sem controle. Filosofia sem rigor, porque eclética sob pretexto de objetividade; ética sem exigência, porque, associando experiências etológicas, elas mesmas sem crítica, a do confessor, a do educador, a do chefe, a do juiz etc.; medicina sem controle, visto que das três espécies de doenças mais ininteligíveis e menos curáveis, doenças da pele, doenças dos nervos e doenças mentais, o estudo e o tratamento das duas últimas forneceram sempre à psicologia observações e hipóteses.” (George Canguilhem, O que é a psicologia? 1956, Estudos de história e de filosofia das ciências: concernentes aos vivos e à vida. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 401-402).
 
Essa é uma apresentação interessante, e se amplia na medida em que Canguilhem destrincha a psicologia em vários elementos de composição: como Ciência natural, como Ciência da subjetividade e como Ciência das reações e do comportamento. Felizmente, essas contradições tem sido discutidas e tratadas nos últimos cinquenta anos, e a profissão tem desenvolvido suas práticas no sentido de melhorar suas teorias, melhor posicionar sua ética e ter conhecimentos mais refinados das doenças mentais.
Algo importante a ressaltar é que a Psicologia tem produzido efeitos cada vez mais satisfatórios em seu trabalho, auxiliando muitas pessoas a lidarem com suas dificuldades, a promoverem saúde ea seguirem melhor suas vidas. E esse aspecto, que também foi considerado na fala de Canguilhem, implica nossa profissão a trabalhar ainda mais na construção de seus saberes [saberes e não Saber].

Psicanálise: Crítica da ciência

Considerando as distinções entre Ciência e Não-Ciência, ou Pseudociência, como fica a Psicanálise? Esta é uma área exterior à Psicologia, por ter suas instituições próprias de formação, mas também interior, por ser ensinada nos cursos de Psicologia e de depender desta na empregabilidade no mercado de trabalho.

Se a Psicologia tem uma contradição de existência por ser construída por múltiplas abordagens e práticas e lidar com a situação de se definir enquanto A Ciência Psicológica, a Psicanálise tem sua contradição devido à questão da validade de suas afirmações e da eficácia de sua prática.

O filósofo da Ciência, Karl Popper, disse sobre a Psicanálise:

“O caso da psicanálise é diferente [do marxismo, que já foi ciência e deixou de ser, segundo o autor]. Ela constitui uma metafísica psicológica interessante (há alguma verdade nela, como frequentemente há nas ideias metafísicas), porém nunca foi ciência. […]. Mas o que impede suas teorias de serem científicas, no sentido que descrevi é simples, elas não excluem nenhuma conduta humana fisicamente possível. Qualquer coisa que alguém faça é explicável, em princípio, em termos freudianos ou adlerianos. […]. A questão é clara. Nem Freud nem Adler excluem a possibilidade de que uma pessoa qualquer aja de uma maneira qualquer, sejam quais forem as circunstâncias externas. Pela teoria de Freud é impossível prever ou excluir se um homem se disporia a sacrificar a vida para salvar uma criança que se estivesse afogando (um caso de sublimação) ou a assassinar a criança, afogando-a (um caso de repressão); a teoria é compatível com tudo que pode acontecer – mesmo sem recorrer a qualquer procedimento especial de imunização.” (O problema da demarcação, Karl Popper, 1974, Popper: textos escolhidos, David Miller (org), Contraponto, 2010, p.126-127).

Aproveitando o ensejo, um elogio: Ao ler Karl Popper, tem-se a impressão de uma tranquilidade impressionante em apontar os princípios do que ele chamou de falseabilidade e refutabilidade em Ciência e de conduzir suas discussões sem mostrar uma vontade imensa de querer destruir quem é contrário. No lugar disso, ele solicita que tentem uma nova forma de construir seu conhecimento, que ele indica que seja feito da seguinte maneira: ao invés de provar estar certo por sua prática ter tido êxito alguma vez, provar estar certo porque até então não houve problemas nela (resumidamente falando).

A crítica que Popper faz a Freud e à Psicanálise  é a de que nada pode ser falseado em sua teoria, pois tudo faz ser a favor da própria teoria, que não apresentaria falhas, aceitando todo tipo de contradição. O exemplo que ele utiliza é o de que para uma mesma situação, há várias explicações teóricas possíveis, sem exclusão de umas pelas outras.

Notavelmente, isso esbarra no seguinte aspecto: Para que haja a construção de uma Ciência, é esperado que sua teoria não apresente diversas explicações possíveis para um mesmo fenômeno, mas uma e somente uma. No caso, contudo, existirem mais de uma, deve apresentar formas de validação/refutação de ambas.

Mas a que serve uma teoria? Uma teoria serve para constituir relações no funcionamento de determinado fenômeno de tal maneira que se possa prever seu funcionamento e controlá-lo de acordo com a vontade de quem construiu a teoria, ou de quem solicitou que a teoria fosse construída.

Em geral, é assim que funciona em Ciências, e fica claro porque isso é questionado na Psicanálise. Uma teoria científica não é coisa pouca, não é “ah, isso é teórico”. Ao contrário, é aquilo que tenta chegar o mais próximo possível do funcionamento de um fenômeno, de maneira a intervir sobre ele, podendo ser representada, inclusive, matematicamente. Falando de maneira simples: Toda Ciência tenta ser uma Ciência Formal, ou seja, se não trabalhar com a pureza do fato, chegar o mais próximo dele, com o menor número de especulações possível.

Toda Ciência?

É aí que está o ponto nodal dessa discussão, que pode ser posto em questões: 1) Ao dizer que um campo é proveniente da Ciência Formal ou da Ciência Natural, esse campo se torna mais válido ou mais eficaz que os outros? 2) Quando se diz que um campo é mais válido ou mais eficaz, a que condição/situação ou a quem esse campo satisfaz em sua validade e eficácia? 3) O que se espera que esse campo produza para se dizer que é válido ou eficiente?
Isso é importante em um momento social, político e econômico em que há muita especulação pluralizada sobre O Verdadeiro e Os Falsos, O Certo e Os Errados, O Válido e Os Inválidos, O Bom e os Maus, buscando absolutos, quando, na verdade, o que faz a vida humana seguir é a interlocução dos diferentes saberes diante das situações cotidianas. Juntamente a isso, soma-se o fato de que cada grupo constrói seu saber, sua Ciência, em função da prática que realiza e do que pretende produzir, ou seja, dos efeitos que sua prática pretende produzir.

Um exemplo a esse respeito:

Quando falamos em memória humana, podemos encontrar diferentes classificações: 1) Memória sensorial (visual, auditiva, tátil, olfativa, gustativa), memória de curto prazo, memória de longo prazo (semântica, processual, episódica); 2) Memória de procedimento (implícita), memória declarativa (explícita), que pode ser dividida em memória episódica e memória semântica; 3) Memória de trabalho, memória de curto prazo, memória de longo prazo.

Elas se aproximam, evidentemente, mas são diferentes por auxiliarem em ações específicas, para as quais foram classificadas. O que se diz aqui: que a classificação das memórias é dependente do que se pretende fazer com essa classificação, pois poderia haver classificação diferente caso os objetivos fossem outros.

[Um exemplo claro disso é a existência da Classificação Internacional de Doenças (CID), em sua 10ª Edição, e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), agora em sua 5ª Edição. O primeiro é feito para a área da saúde, contendo o capítulo de Transtornos Mentais, que é o capítulo “F”. O segundo é feito por psiquiatras, voltado somente para a área de saúde mental. Cada um é feito segundo determinados critérios e padrões, com o objetivo de sanar interesses específicos, alguns dos quais, mais mercadológicos que sanitários.]

No caso da Psicanálise, a função da memória fica entre lembrar e esquecer, estando envolvida por processos emocionais passíveis de significação e desconhecidos ao paciente – o conceito de Recalque surge para discutir essas questões. Não há porque construir melhor classificação para esse caso, pois, de que se trata na experiência psicanalítica se não o ato de solicitar à(ao) paciente que fale o que lhe passa na cabeça, considerando que há ali um sofrimento? E quantas vezes se escuta no consultório a(o) paciente dizer frases parecidas com “Como eu gostaria de esquecer isso” ou “Eu não sei do que se trata mas há algo que está me incomodando, não consigo lembrar”? Muitas vezes!
Fim do exemplo.

O que se implica a partir desse exemplo: que toda Ciência é construída com uma determinada finalidade e essa finalidade indica o sentido de toda a produção da Ciência, desde os seus objetivos, passando por seus procedimentos e metodologias, suas práticas, guiando o trabalho do profissional no sentido de cortar/separar a realidade para produzir um saber. Está no cerne de toda Ciência separar as coisas para produzir um saber.

Mas você já percebeu que há pessoas que fazem coisas lindas no dia-a-dia sem ter conhecimento algum de uma Ciência? O que ela fez? Ela cortou e separou por ela mesma e assim fez sua Ciência própria, muitas vezes, inclusive, sendo usurpada por pessoas que pegam seu saber e transformam em outro com princípios diferentes, para outros fins [vide indústria farmacêutica, por exemplo].

Toda Ciência visa produzir um saber na medida em que destrincha algum objeto. A partir do momento em que ela destrincha, ela busca uma forma de avaliar se esse ato é certo ou não, e se o saber que ela produz é certo ou errado, válido, verificável etc. Dessa forma ela poderá intervir sobre o fenômeno e produzir efeitos que ela pretende produzir. Isso serve muito bem para as Ciências Formais e Empírico-Naturais.

O que chama a atenção nessa discussão é que a Psicanálise também produz efeitos em sua prática. No entanto, ela é criticada por causa, principalmente, de sua construção teórica que não exclui possibilidades contraditórias, por sua prática não ser diretiva e por ter duração prolongada.

Por outro lado, a Psicanálise trabalha buscando efeitos que dependem de uma interação específica com o paciente e de sua participação no tratamento, e foram esses efeitos que interessaram Freud, Lacan e tantos outros.

Afora essa situação entre Ciências Naturais e Sociais, Ciência e pseudociência, Psicologia e Psicanálise, o percurso de um psicanalista é sempre o de se colocar a questão do que é uma Psicanálise, de quais efeitos ela produz, de como ela os produz, e trabalhar a teoria para refinar a forma de escutar a(o) paciente na Clínica, ou seja, aquilo que acontece na interação com o paciente a partir do momento que ele fala aquilo que lhe passa pela cabeça, sem censurar.

Essa foi uma reflexão constante de Lacan [psicanalista francês], que retornava a ela para construir a teoria de forma a situar o psicanalista em sua prática, sempre tentando aprimorar a teoria a partir das questões que a prática psicanalítica o colocava, apontando para a importância da experiência analítica, fornecendo “uma teoria da experiência analítica”:

“O que é posto em jogo na análise? Será essa relação real com o sujeito, isto é, reconhecer sua realidade segundo certa forma e segundo nossas medidas? Será com isso que temos de lidar na análise? Decerto não, é incontestavelmente outra coisa. Eis, com efeito, a questão que incessantemente nos colocamos, e que se colocam todos aqueles que tentam fornecer uma teoria da experiência analítica. Em que consiste essa experiência singular entre todas, que vai produzir transformações tão profundas nesses sujeitos? O que são elas? Qual é seu mecanismo?” (Jacques Lacan, O simbólico, o Imaginário e o Real, 1953, Nomes-do-Pai, Zahar Editora, p. 14).

As Escolas de Psicanálise, ao menos no sentido que Lacan fundou, tem por função colocar os psicanalistas para trabalharem em torno das questões que surgem na Clínica, nesse espaço em que uma pessoa se deita para falar tudo o que lhe passa pela cabeça e outra pessoa lhe escuta numa posição mais silenciada para pôr em cena o que se passa no discurso construído.

A teoria é, portanto, uma teoria da experiência de escutar o outro, não a teoria de um experimento científico. Ela constitui, portanto, uma cisão entre um campo que vai da Clínica para a vida, diferentemente dos campos que vão do laboratório para a vida ou do laboratório para a Clínica. Não é o rigor da verificabilidade, mas o rigor da escuta que guia o percurso.

O próprio Lacan, em sua Proposição de 9 de Outubro de 1967, disse que:

“A Escola pode testemunhar que o psicanalista nessa iniciativa traz uma garantia de formação suficiente. Ela pode também constituir o meio de experiência e de crítica que estabeleça ou mesmo sustente as melhores condições de garantias. Ela pode e portanto deve fazê-lo, já que Escola, ela não o é apenas no sentido de distribuir um ensinamento, mas de instaurar entre seus membros uma comunidade de experiência, cujo cerne é dado pela experiência dos praticantes. A bem dizer, seu ensinamento, ele próprio, não tem como finalidade senão trazer a essa experiência a correção, a essa comunidade a disciplina de onde se promove a questão teórica, por exemplo, de situar a psicanálise em relação à ciência.” (Jacques Lacan, Proposição de 9 de Outubro de 1967, Analytica, nº8, s/p).

Concluindo em tópicos

1) Ao dizer que Ciência é saber, e saber produzido na medida da distinção das coisas, de seus cortes, separações e classificações, considera-se que todo ser humano tem Ciência.

2) Já A Ciência é uma área que produz saber de forma específica, utilizando critérios para validar o método de produção e o saber produzido ao final.

3) A Ciência, una e absoluta não existe, pois em seu agrupamento há diversas classificações, algumas das quais são radicalmente diferentes em sua forma de trabalhar metodologicamente e produzir conhecimentos. Entretanto, academicamente, entende-se que A Ciência é aquilo que está mais próximo do campo formal, seja por fazer parte das matemáticas, seja por ter sido validado via empiricismo e alcançado o menor grau de refutabilidade possível.

4) Toda Ciência ou toda produção de saber tem alguma finalidade, e é essa finalidade que guia a construção de seus objetivos, de seu método, de seus resultados e de sua prática.

5) Se toda Ciência tem uma finalidade, devem-se pensar quais as condições que permitem propor essa finalidade e ao que e a quem interessa essa finalidade.

6) A Psicologia é uma Ciência no sentido do tópico 2 e é questionada no sentido do 3.

7) A Psicanálise produz uma Ciência no sentido do tópico 1, situando-se criticamente diante do tópico 3 quando este tenta fechá-la em uma posição específica no tópico 2, sobre o qual ela se questiona incessantemente. Por se questionar sobre sua posição específica no tópico 2, ela é considerada por 3 uma Pseudociência.

8) A Psicologia e a Psicanálise produzem efeitos, muitos dos quais não são aceitos por grupos relativos ao tópico 3, quando se compara suas práticas à prática de um físico, neurocientista ou medicamento psiquiátrico, por exemplo. Apesar disso, cada vez mais pesquisas mostram a eficácia e a eficiência de suas práticas.

9) Dar Ciência, conforme o tópico 1, a alguém, como um produto pronto, não muda a vida dessa pessoa, necessariamente, tal como acontece em uma psicoterapia ou em uma análise. Não basta falar ao outro ou dar livros para que ela mude. Se fosse assim, todo mundo já estaria bem. O que faz mudar é a interação em um espaço específico preparado para isso, e a isso se denomina Clínica.

11) A Psicanálise é, antes de uma Ciência, uma Clínica, a respeito da qual ela constrói sua teoria. No entanto, a teoria psicanalítica serve mais para refinar a escuta do psicanalista que para prever e controlar o que acontece na relação com o paciente. A função da teoria psicanalítica é o de dar condições ao psicanalista para não fazer qualquer coisa que pareça uma Ciência (tópicos 2 e 3) no momento da Clínica, pois a finalidade da Psicanálise é que o paciente construa uma Ciência (tópico 1) própria.

Psicanálise: Ciência, AntiCiência, Clínica

A Psicanálise tem sua prática relacionada aos conceitos de Inconsciente e de Desejo. A pergunta principal da Psicanálise é “Que queres?”, que reaparece em tudo quanto é situação de vida, e o Inconsciente é o suporte para pensar as produções do paciente.

“Que queres nisso que está fazendo?”

Quando o Psicanalista pergunta “Que queres?”, ele guarda sua teoria para escutar as associações do paciente de forma que este construa um saber sobre si diferente de tudo que ele já havia pensado ou vivido.
Nesse sentido, a Psicanálise é uma área que produz um saber sobre seu objeto, a fala do paciente/o paciente e sua fala, podendo ser considerada uma Ciência a partir do tópico 1 e ser aceita porém questionada enquanto Ciência do tópico 2 devido ao tópico 3. Por outro lado, ela é uma área anticientífica, também considerando os tópicos 2/3, pois ela não está interessada exatamente na produção de um saber sobre o seu objeto, mas que o paciente produza esse saber sobre si enquanto objeto.
Se há cientista na Psicanálise, esse cientista é o próprio paciente, que passa a analisar o que diz, construindo um saber que não vem da Psicanálise nem de outra área da Ciência.
Enquanto Ciência, a Psicanálise produz saber sobre seu objeto, que é o que ela escuta em sua prática. Enquanto Anticiência, ela se cala e deixa que o paciente fale para que este produza um saber . Nesse último caso, ela é uma Clínica que não aplica sua Ciência, sua teoria, na prática que realiza.
Assim, ela é uma Ciência ao avesso: Ao invés de [somente] produzir um saber sobre o paciente e sua fala, ela visa que o paciente produza um saber sobre o que foi a experiência da Psicanálise.

Não há que ir mais longe, pois isso já é longe demais.

Forte abraço!

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