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Filme: Lembranças de um amor eterno.

O filme “Lembranças de um Amor Eterno”, lançado no Brasil em setembro de 2016, é um drama e romance dirigido por Giuseppe Tornatore e estrelado por Olga Kurylenko (Amy) e JeremyIrons (Edward).
Seu enredo é o seguinte: Amy e Edward são namorados com vidas corridas e sem tempo ou local para estar em contato com o outro. Amy é dublê de filmes de ação e Edward é um eminente astrofísico, e ambos estão sempre ocupados. Para resolver a dificuldade dos encontros, eles se comunicam trocando e-mails e vídeos, mandando mensagens pelo celular e ligando. Isso ocorre até que Amy descobre que algo estranho aconteceu com Edward, e a relação deles, embora mantenha as correspondências, ganha outro rumo.
Tanta gente fala sobre o amor que o assunto é por vezes banalizado. O amor é um tema que aparece em todo lugar. Fazendo um teste no Google, ao escrever a palavra “amor” o buscador completou com “amor doce”, “amor em cristo”, “amor mal resolvido”, “amor musica”, “amor significado”, “amor verdadeiro”, “mensagem de amor para namorado”. Em 41 décimos de segundos, o Google encontrou 866 milhões de publicações a respeito.
Embora o amor seja um tema tratado por muitos, ele continua sendo delicado, incompleto e não resolvido. Independentemente do tipo, ele aparece muito frequentemente nas histórias que se escuta no consultório. Não é nem um pouco incomum falar de amor para um psicanalista, vide o próprio Freud que disse que a Psicanálise é uma cura pelo amor. É impressionante como o amor é uma grande questão para muitos, se não todos nós: amor entre esposo e esposa, entre namorados, na relação pai-filho(a), mãe-filho(a), entre irmãos, colegas de trabalho, em relação a Deus etc.
Quanto ao filme, a diferença entre seu título original, “La Corrispondenza”, e a tradução, “Lembranças de um Amor Eterno” chama a atenção. Os dois títulos são válidos, mas cada um capta um contexto diferente do filme. É possível entender as “lembranças de um amor eterno” como “A correspondência”.
A palavra Correspondência faz referência a reciprocidade, intercâmbio entre um e outro. Remete, por exemplo, às conversas por cartas, ato que exige tempo para ler, pensar, responder, receber e recomeçar. Pensar o amor associado à Correspondência talvez seja uma forma genuína de considerar o assunto. Ao invés de vê-lo como Ágape (divino), Philos (fraterno), Eros (sexual), classificando-o em tipos de acordo com qualidades e características, pode ser possível entendê-lo como uma correspondência entre as pessoas.
Corresponder é apresentar relação mútua, algo que acontece entre dois, um de cada lado. É a possibilidade de o outro responder e acompanhar junto, manter algo em relação. Que tal, então, ao invés de separar o amor em classes, tomá-lo a partir do termo “Correspondência”?
Entretanto, será que é possível que exista correspondência exata entre duas pessoas? Talvez sim, talvez não. Na maioria das vezes vivemos mais momentos díspares e desencontros, marcados por algumas correspondências, que o contrário. Também acontece, contudo, de termos momentos em que falamos e o outro nos entende, de parecer ler nossos pensamentos, de lembrar-se de nós quando nos lembramos dele – embora isso tenda a ser mais exceção que regra.
Algumas questões podem auxiliar a pensar: Será que não é essa a forma mais genuína de pensarmos o que é o amor entre as pessoas: uma correspondência única e singular que acontece com pessoas em condições psicológicas e sociais diferentes? Será que o amor envolve a correspondência exata das condições das pessoas ou apenas esses encontros entre pessoas vivendo em condições diferentes?
O amor entre um pai e um filho acontece mesmo que ambos tenham ideias completamente distintas um para com o outro e que não se entendam de fato por viverem em planos e circunstâncias singularmente diferentes. Você já ouviu um filho dizendo algo como “Você não me entende, não vive o que eu vivo e não sabe o que eu passo!” ou um esposo sentir-se cobrado por sua esposa sobre algo, mas depois entender que aquilo era realmente importante? Nos dois casos, e em todos os outros, parece ser exatamente o mesmo ponto da correspondência de diferenças.
Talvez essa seja uma forma interessante de pensar o amor: o encontro de pessoas que estão em condições psicológicas e sociais diferentes, mas que, em um instante se correspondem. Talvez isso dure um pouco mais ou um pouco menos. Em geral, contudo, queremos segurar para sempre, mas não temos esse poder. No fim, melhor vivê-lo e sustentá-lo para que se mantenha enquanto puder. É isso.

Até o próximo!
Abraço!

Observação: Essa publicação compõe o projeto-piloto “Psicologia, Psicanálise e Saúde Aplicadas às Artes”, realizado como uma experiência de Lista de E-mails durante o período de setembro e novembro de 2016. Contém dez publicações: “Viver socialmente sem se apagar”, “O desejo humano envelhece?”, “O Inconsciente, nosso estranho familiar”, “Será que somos todos loucos?”, “Essa família é muito unida e também…”, “O que você procura no amor?”, “Apagar as memórias cura nosso sofrimento?”, “O que você sabe sobre as drogas?”, “O que você faz com a sua preguiça?”, “Será que existe um duplo seu por aí?”.

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