Recentemente alguns colegas e amigos que participaram conosco dos cursos realizados em 2018 perguntaram se teremos cursos em 2019. Informamos que nesse momento não, pois estamos realizando alguns propósitos pessoais e focando nos estudos. Assim, pareceu interessante informar nossos estudos, pois pode tanto mostrar o impulso ao estudo quanto convocar quem acompanha a estudar também.
Estão acontecendo:
Seminário “A Narrativa Fantástica e o Mito Individual do Neurótico”: Atividade proposta pelo psicanalista Antônio Carlos, da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória, que acontece na última terça-feira do mês, entre 13h30 e 15h30, na Faesa, aberta ao público. Na apresentação do seminário, realizada dia 26/03, Antônio situou o contexto de reflexão de seu trabalho, propondo pensar sobre o elemento do fantástico, presente nas obras do diretor Tim Burton, e articulá-lo com o estranho (Unheimlich) tratado por Freud em sua teorização. Então, ele refletiu sobre a relação do humano com o estranho em sua constituição, quando, por exemplo, a criança elabora histórias fantásticas para bordear esse elemento fundante, lembrando os textos do Caso Hanns e de Totem em Tabu, ambos de Freud. Para nós, o assunto do fantástico e do mito individual interessam para pensar o trabalho no consultório, tendo em vista a importância do paciente elaborar o que passa consigo pois, necessariamente, toda elaboração tangencia esses dois temas.
Leitura “A Escola de Lacan e a Formação do Psicanalista”: Atividade proposta pela psicanalista Rosânea de Freitas, da Escola Lacaniana, quinzenalmente, nas quartas-feiras entre 17h e 18h30, na própria Escola Lacaniana, aberta ao público. No primeiro encontro, Rosânea fez uma apresentação de sua proposta entrando no texto “A História do movimento Psicanalítico”, de Freud, para pensar a construção do campo psicanalítico e das questões relacionadas à formação. Essa proposta nos pareceu interessante por articular dois aspectos, o assunto da formação do psicanalista, tendo em vista o tripé composto por análise pessoal, supervisão e estudos, e sua relação com as instituições de psicanálise. Entendemos que esse é um ponto nodal na formação, pois envolve pensar que, embora a formação tenha um aspecto solitário, ela também envolve o trabalho conjunto com outros que realizam seus percursos.
Leitura “A Angústia em Freud e em Lacan”: Atividade proposta pela psicanalista Liliane Brioschi, da Escola Lacaniana, quinzenalmente, nas quartas-feiras entre 17h e 18h30, na própria Escola e aberta ao público – alterna com a leitura de Rosânea. Já foram realizados dois encontros da leitura, nos quais Liliane fez uma apresentação de sua proposta, retomando assuntos que trabalhou no ano anterior, e propôs pensar a angústia, que é um dos temas centrais na teoria e na clínica psicanalítica – Lacan chega a dizer que a angústia é o afeto que não engana, pois ela aponta para algo de real em nosso psiquismo. Para a atividade, Liliane está trabalhando o Seminário 10 de Lacan, “A Angústia”. O assunto nos interessa pois de fato a angústia é um elemento fundamental na clínica, e é com ela que caminhamos no trabalho com os pacientes, tendo em vista que nos serve de bússola para indicar os pontos em que o paciente se sente aturdido consigo próprio e com sua existência. Longe de escondê-la, nós a acolhemos e convidamos o paciente a falar dela.
Seminário de Estudos sobre o Um: Atividade proposta pelo psicanalista Alberto Murta, da Escola Brasileira de Psicanálise, que acontece semanalmente nas segundas-feiras às 20h30 na Escola Brasileira, aberta ao público. Já aconteceram três encontros do seminário. Alberto, desde sua apresentação, tem apontado seu interesse em trabalhar alguns capítulos do seminário 19 de Lacan, “… ou pior”, para pensar a questão do Um em psicanálise, assunto que aponta para o real e para o feminino. Sua reflexão versa sobre o tema do percurso em uma análise, do que ela realiza na experiência do analisando em torno de sua posição sexual – que na psicanálise ultrapassa a questão do sexo. A nós, o tema interessou por conta de refletir sobre o feminino não como a feminilidade, mas como a abertura para outra forma de se relacionar consigo e com o outro. Essa é uma discussão importante dentro do campo psicanalítico que auxilia a pensar a diferença nas relações humanas.
Aconteceu:
Testemunho de Passe: Atividade realizada pela Escola Brasileira no sábado, 30/03, no Hotel Bristol em Vitória. Explicando de forma simples, o Testemunho do Passe é consequência do percurso de formação do psicanalista, tendo em vista que este mantém seu trabalho de análise por longo tempo, pois a análise compõe o tripé de formação. Então, após um longo período trabalhando em análise suas questões pessoais, o psicanalista se vê de encontro com elementos de sua própria constituição e tenta reposicioná-los. Isso é diferente das análises de nossos pacientes, tendo em vista que eles não necessariamente pretendem trabalhar com psicanálise e não precisam continuar a análise como parte de sua formação contínua. Assim, a reflexão sobre o Passe do psicanalista contribui significativamente para a reflexão sobre a ética em sua formação. O Passe é, então, essa passagem de um percurso e o Testemunho é a abertura para contar sobre essa passagem a outros psicanalistas em formação, que é contínua. No sábado, 30/03, o testemunho foi feito pela psicanalista Sandra Arruda Grostein, que nos contou sobre os elementos presentes em suas análises ao longo de 30 anos de incursão no campo psicanalítico. Alguns desses elementos dizem respeito à relação mãe-filha, à maternidade e ao lugar da mulher, à rigidez e à cobrança consigo própria, ao reposicionamento diante de si, e ao encontro com a letra S presente em diversos contextos familiares e pessoais, que lhe permitiu reposicionar sua relação consigo na vida. Esse testemunho nos serviu para pensar em nosso processo, os processos de nossos pacientes e o que é fundamental no contexto da psicanálise: tomar a si próprio como o principal caso clínico.
Acontecerão:
Jornada sobre o Passe: O Desejo do Analista e a Transmissão da Psicanálise: Essa é uma jornada interna das Escolas Lacanianas de Psicanálise de Vitória, do Rio de Janeiro e de Brasília, que acontecerá nos dias 05 e 06/04. A Jornada visa trazer para o trabalho o tema das análises dos analistas, tendo em vista o percurso de longo tempo que cada analista faz em sua formação, e pretende tratar das crises e dos impasses em torno das Escolas de Psicanálise, dos testemunhos do passe e do trabalho do psicanalista. Tal como a atividade anterior, essa nos interessa para refletir sobre o percurso que fazemos no campo e o que é possível colher dos relatos dos pares sobre as reflexões que eles fazem sobre o percurso das análises.
Jornada Clínica: Os Tempos de uma Análise: Essa é uma Jornada proposta pela Escola Lacaniana de Psicanálise do Rio de Janeiro, nos dias 31/05 e 01/06, na PUC, na qual se propõe trabalhar as temporalidades subjetivas presentes em uma análise, afinal de contas, a noção do tempo é bastante valiosa quando diz respeito à subjetividade humana. Por exemplo, é necessário tempo para que um paciente consiga escutar algo de diferente naquilo que ele fala, assim como para que elabore um acontecimento sofrido ou se dê conta de uma intervenção feita pelo psicanalista. Não é porque escutamos algo que seus efeitos se realizam imediatamente, e isso mostra como há um descompasso entre os tempos das pessoas.
Além dessas atividades, temos estudado em cartel (uma forma de grupo de trabalho dentro do campo psicanalítico) sobre o tema da transferência na obra de Freud e o da técnica da psicanálise. Esses assuntos nos interessam por contribuírem para entender a singularidade da técnica da psicanálise e situar nosso trabalho em relação a outras propostas dentro do campo psi (psiquiatria, psicologia, psicanálise).
Esperamos que essa apresentação possa dar um gostinho dos estudos que temos realizado, assim como convocá-la(o) a refletir sobre os assuntos e se envolver.
Disponibilizamos os links para você conhecer as atividades das instituições que citamos: Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória; Escola Brasileira de Psicanálise – Delegação Espírito Santo.
Até breve!
Flávio Mendes,
Psicólogo Psicanalista em Vitória/ES.