Texto: Algumas lições elementares da Psicanálise
O texto “Algumas Lições Elementares de Psicanálise” um ótimo material para você se aproximar da Psicanálise e, também, para pensar na vida. É um texto pequenino, apenas quatro folhas, escrito em 1938 e presente no volume 23 da obra do Freud. Um dos seus últimos textos escritos.
Nesse texto, Freud apresenta a Psicanálise e seu principal conceito, o Inconsciente, que ele utilizou para falar daquilo que desconhecemos em nós mesmos e que funciona sem que saibamos ou compreendamos sua lógica. Ele fala que muitas pessoas achavam que o psiquismo era igual à consciência e que acreditavam que conhecemos e temos noção de tudo o que sentimos. Para contradizer essa ideia, apresenta três situações:
- Temos pensamentos que surgem em nossa cabeça que não fazemos ideia de como surgiram, simplesmente aparecem;
- Em uma solenidade, o presidente de um órgão público deveria abrir a sessão mas disse “Declaro encerrada a sessão”, trocando o que queria dizer;
- Um paciente foi hipnotizado para que abrisse o guarda-chuva quando o médico entrasse na sala.
Quando o médico entrou, o paciente abriu o guarda-chuva sem entender porque fez isso.
Com essas três situações, Freud questiona o que a sociedade de sua época pensava e relata sua proposta, perguntando-se se todos esses atos (lapsos de escrita, lapsos verbais, audição equivocada, atos falhos) não seriam provocados por processos psíquicos – como pensamentos, desejos ou intenções -, todos eles inconscientes no momento que ocorrem.
Isso nos coloca uma primeira reflexão: E se todas as vezes que nós realizamos algo que nos provoca estranheza existir uma razão singular que o explique? Situações como a troca de chaves, o esquecimento do cartão, um sonho, a lembrança de uma palavra antiga, um sentimento estranho ao ver alguém, troca do nome de pessoas, desistência de começar algo novo, mesmo traço de namorado etc.
O termo Inconsciente auxilia no consultório porque permite escutar o que as pessoas dizem entendendo que há algo estranho em suas vidas que elas inicialmente desconhecem. O objetivo é o de descobrir o que é esse estranho, qual a sua história, seu funcionamento, seus mecanismos e gatilhos. Quanto mais a pessoa conhece esse estranho que a habita, ela nota que ele é bastante familiar, que sempre esteve ali, mas nunca recebeu a devida atenção. Nessa hora que descobre, a pessoa se mobiliza a lidar com ele de forma diferente.
Uma pessoa chega ao consultório, conta sua história sentindo-se mal e sem perspectivas, mas ao contar constrói associações que nunca fez até aquele momento, entendendo as ações que realizava e seus mecanismos e, consequentemente, se reposicionando.
Essa é a segunda reflexão, que serve bastante para pensar a vida: quais são as situações que acontecem em nossas vidas que nos queixamos, mas que, se pensarmos, somos nós mesmos participando inconscientemente disso?
Deixamos as reflexões para você pensar.
Até o próximo!
Abraço!
Observação: Essa publicação compõe o projeto-piloto “Psicologia, Psicanálise e Saúde Aplicadas às Artes”, realizado como uma experiência de Lista de E-mails durante o período de setembro e novembro de 2016. Contém dez publicações: “Viver socialmente sem se apagar”, “O desejo humano envelhece?”, “O Inconsciente, nosso estranho familiar”, “Será que somos todos loucos?”, “Essa família é muito unida e também…”, “O que você procura no amor?”, “Apagar as memórias cura nosso sofrimento?”, “O que você sabe sobre as drogas?”, “O que você faz com a sua preguiça?”, “Será que existe um duplo seu por aí?”.