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No sábado 19/10/19 aconteceu n’A Oca – Bistrô, Ateliê e Hostel, Vitória/ES, a Roda de Conversa “Desorganismo: no corpo da palavra” sobre Psicanálise e Corpo, protagonizada pelo psicólogo institucional Getulio Souza e pelos psicanalistas Natália Nespoli e Erly Alexandrino. Um dos mobilizadores dessa roda de conversa foi o livro de poesias “Calor: outro” (Ed. Pedregulho, 2019), de Getúlio, e de uma de suas poesias, chamada “Vão”, que apresentamos a seguir:

Vão
(Getúlio Souza)

Vento de esquina,
uma faca na garganta.
Toda infância em um milissegundo
suspiro-solfejo de descuido.

Um arroubo entre estratos
na tez da teia de cacos da memória
qual frágil haste entre o tempo e qualquer coisa.

Ah… esse corpo desorganismo.

Um breve resumo:

Iniciando a Roda de Conversa, Getulio resgatou uma parte comum do percurso dos três protagonistas e declamou a poesia Vão. Em seguida, convidou Natália a falar e esta contextualizou a dimensão do corpo no campo psicanalítico, resgatando os primórdios da psicanálise e sua fundação por Freud escutando mulheres que sofriam com suas histerias, cujos sintomas manifestavam-se no corpo. Foi ao lançar uma escuta para a narrativa subjetiva dessas mulheres, ao invés de focar-se objetivamente sobre seus sintomas, que Freud instituiu a possibilidade do campo psicanalítico.

A partir dessa introdução, Natália falou sobre as compreensões de Freud e de Lacan sobre a constituição subjetiva e, por conseguinte, sobre a relação do humano com esse sofrimento que é vivido no corpo, levando sua apresentação aos conceitos de pulsão de morte, em Freud, e de gozo, em Lacan.

Dando sequência à apresentação, Getulio convidou Erly a apresentar e este fez sua fala pela via lacaniana resgatando a frase “O Outro é o corpo”. Ele destrinchou essa questão apontando como a subjetividade, embora fundamental na estruturação da subjetividade, encontra-se diante do corpo como uma alteridade.

Erly continuou apontando para o tema do gozo e de em seus estudos se deparar com a ideia de “desmentido banal“, uma forma de perversão ordinária em que embora o sujeito identifique a existência dos limites e da lei (campo simbólico), ele não se importa com isso. Assim, todo tipo de excesso passa a vigorar e o corpo vai se mostrando como último limite a esses excessos, afinal, ele pode se extinguir.

Retomando a fala ao longo das apresentações, Getulio falou sobre sua caminhada na produção de seu mestrado, do livro “Calor: outro” e de suas leituras sobre o contemporâneo a partir de Walter Benjamin, trazendo uma discussão sobre a distinção entre palavra e nome para pensar o tema do corpo e reposicionar os trabalhos na clínica.

Algumas considerações:

Após as apresentações, foram feitos debates a respeito das reflexões levantadas pelos profissionais, permeadas por considerações sobre os acontecimentos na clínica. O debate deixou algumas questões para refletirmos: primeiramente, a diferença entre a compreensão de Freud sobre a “pulsão de morte” e a de Lacan sobre o “gozo”, considerando que eles se situam em paradigmas epistemológicos diferentes; em segundo lugar, a fala de Lacan sobre “O Outro é o corpo”, o que aponta para uma leitura diferente sobre o campo do Outro; por fim, a concepção do “desmentido banal” para pensar os excessos subjetivos no contemporâneo. Ficamos com essas questões para refletir ao longo do percurso.

Indicamos a publicação que fizemos sobre o Livro “Antologia das Flores”, do qual participamos com algumas de nossas poesias, e uma apresentação que fizemos em 2016 com o nome “Considerações sobre o Corpo e a Saúde Psicológica no Trabalho“.

Que venham novos debates!

Abraço!

Flávio Mendes,
Psicólogo Psicanalista em Vitória/ES.

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