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No dia 18/05/19, participamos da mesa redonda “Formação e Transmissão em Psicanálise” na Faculdade Multivix São Mateus (São Mateus/ES), a convite do psicólogo psicanalista Iagor Brum Leitão, como marco do lançamento de seu livro “Percursos em Psicanálise: Clínica, Escrita, Transmissão e Estilo”, no qual contribuímos com a participação em um dos capítulos e com o Prefácio.

Na apresentação, disponibilizada em áudio nesta publicação, tratamos dos seguintes assuntos:

  • Distinção sobre a formação nos diferentes campos e na psicanálise
  • A formação em geral não prescinde do envolvimento grupal e da troca, e na psicanálise isso tem importância central no processo
  • Para além do conteúdo, a ideia da transmissão traz consigo uma herança, um legado, e também um tipo de processo, o que toca na história da psicanálise
  • Formação e regulamentação – constituição da IPA; as diferentes escolas psicanalíticas; o movimento lacaniano; problemas da regulamentação da psicanálise encabeçada por instituições religiosas; instrumentalizar x transmitir;
  • Transmissão, o conceito de inconsciente e a transferência; transferência de trabalho; legitimar x transmitir: quem averigua?
  • O cartel e o passe nas escolas de orientação lacaniana.

Você pode escutar o áudio da apresentação na publicação abaixo:

Apresentamos também o Prefácio da obra:

O título “Percursos em Psicanálise: Clínica, Escrita, Transmissão e Ensino” enuncia de forma clara a proposta do colega e psicanalista capixaba Iagor Brum Leitão de dar corpo a um trabalho em andamento, tomando seu percurso de formação e de prática como objeto de sua atividade de elaboração.

Na apresentação da obra, Iagor diz que a escrita foi o dispositivo que encontrou para organizar sua experiência, que não é uma experiência qualquer, mas sim a singular caminhada de um psicólogo, um clínico, um pesquisador e um professor que se aventura pelo campo da Psicanálise. Não há caminho dado ou prescrito nas terras freudianas e cada um constrói o seu a partir das coordenadas simbólicas deixadas pelos anteriores e na interlocução com os pares.

Parece-me grande o valor da escolha do autor pelos três capítulos propostos no livro, “O que é Psicanálise?”, “A Escrita em Psicanálise” e “De que se trata ser freudiano pela psicanálise lacaniana?”, que podem ser entendidos pelo leitor como as demarcações das trilhas de seu caminho. É por meio desses títulos-balizes que Iagor toca em assuntos caros àqueles que realizam sua formação em Psicanálise.

No primeiro capítulo, ele define o que é a Psicanálise e expõe sua relação com a Ciência e, mais particularmente, com a Psicologia. Após discutir a posição de Freud em relação à Ciência, ele desdobra sua exposição para pensar o campo psicanalítico, alcançando questões que considero fundamentais: Como a Psicologia e a Psicanálise se relacionam para aqueles que são formados em uma e se interessam pela outra? Como a Psicologia e a Psicanálise se articulam no contexto universitário, seja nos programas de graduação ou de pós-graduação?

Longe de encerrar o assunto – não é sua intenção –, Iagor propõe o convite para, diante desses possíveis encontros e desencontros, analisar os efeitos produzidos, o que entendo como uma aposta na experiência e na reflexão. Estas são, inclusive, suas posturas a cada novo desafio, a saber, a abertura ao que emerge como possibilidade de experiência e o trabalho crítico.

No segundo capítulo, ao discutir sobre a escrita em Psicanálise, ele parece sugerir que a finalidade última de toda escrita no campo psicanalítico está relacionada à clínica e às suas singularidades, independentemente do conteúdo do texto. A Psicanálise, para o autor – com quem concordo –, nasceu da práxis, a partir da qual elabora seu modus operandi e sua teorização, ou seja, ela é sempre elaboração da experiência clínica e a escrita seguirá o mesmo processo. Acredito que neste apontamento é possível ler o termo “estilo”, fundamental nas elaborações lacanianas.

Em seu último capítulo, quando se pergunta sobre o que é ser freudiano pela psicanálise lacaniana, o autor apresenta os quatro conceitos fundamentais situados e reelaborados por Lacan em seu Seminário 11, de 1963-64, e articula as definições de Freud e de Lacan, mostrando a amplitude de cada conceito e os desafios em sua compreensão e manejo. É valioso notar que os conceitos não são tratados como abstrações, mas como conceitos-fenômenos, pois se manifestam na experiência da clínica.

Tanto a abertura para colher e analisar os efeitos provenientes da experiência quanto a marcação do valor clínico da escrita e dos conceitos psicanalíticos denotam o interesse de Iagor pelo contexto prático da Psicanálise. Esse é um traço distinto que se destaca em sua produção, que entendo fazer uma guinada para a reflexão sobre a experiência e seus efeitos.

É possível encontrar sua posição entre o psicanalista e o pesquisador ao se preocupar em articular e tornar algo dessa experiência com o Inconsciente e com a Psicanálise transmissível para os demais; ao sugerir a abertura da Psicanálise ao contato com outros campos, tornando suas construções dialogáveis para o leitor; ao propor a interlocução visando o refinamento da discussão e do debate, proveniente da interferência de elementos na troca com o outro. A obra é, portanto, um estímulo ao trabalho.

Essa leitura é importante para o leitor interessado e para o praticante que faz seu percurso em Psicanálise, lidando com as questões relativas tanto à passagem de analisante quanto de psicólogo, médico, filósofo etc a de Psicanalista.

Flávio Martins de Souza Mendes.

Vitória, 16 de janeiro de 2018.

 

Flávio Mendes,
Psicólogo Psicanalista em Vitória/ES.

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