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É bastante comum surgirem dúvidas no momento de procurar um tratamento psicológico ou psicanalítico. Após alguns anos atendendo em consultório e escutando os pacientes, nós juntamos várias delas, feitas no início dos tratamentos, e as respondemos para que você tenha acesso. Essa é uma maneira de lhe apresentarmos os trabalhos da psicologia e da psicanálise. Boa leitura!

Como se fala: é consulta ou sessão?

A palavra “consulta” remete-se à busca por ajuda especializada, enquanto “sessão”, à um acontecimento com certo tempo de duração. É possível se consultar com um psicólogo, realizando ações pontuais como a busca de informações, uma anamnese ou uma avaliação psicológica. Entretanto, assim que se inicia uma terapia ou uma análise (psicanálise), a palavra “consulta” perde seu sentido e “sessão” se torna mais apropriada, pois o tratamento depende de momentos de encontro, com uma rotina de trabalho entre paciente e profissional.

Qual a frequência das sessões?

A resposta para esta pergunta depende de diferentes fatores, dentre eles, a proposta de trabalho do profissional e a condição psicológica do paciente. Um tratamento psicológico acontece em sessões, de modo que o processo psicoterapêutico aconteça e se consolide. Quanto mais afastadas são as sessões, mais se reduz a eficácia da terapia ou análise.

Há profissionais que atendem semanal ou quinzenalmente, uma, duas ou três vezes por semana, por exemplo. Isto é algo que pode ser combinado no começo e no decorrer do tratamento, mas não há uma regra específica e o profissional tem liberdade de decisão quanto ao tratamento que propõe.

Quanto um psicólogo cobra pelo tratamento?

Cada psicólogo cobra de acordo com sua formação e orientação, a condição financeira do paciente e outros aspectos. O profissional se posiciona tendo conhecimento dos valores praticados nacionalmente para as diferentes atividades e tratamentos psicológicos.

No que diz respeito à psicanálise, há outra nuance. Desde Freud entendemos que o dinheiro, além de fazer parte das trocas de produtos e serviços entre pessoas, está relacionado à forma como cada pessoa lida com seus desejos, sua vida íntima e seus objetos de satisfação. É por isso que o psicanalista tende a trabalhar com valor variável, combinando com cada paciente um valor que seja importante para seu envolvimento no tratamento.

Quanto tempo dura uma sessão?

Assim como a quantidade e o valor das sessões, a duração de uma sessão também depende de diferentes fatores, como a teoria e a técnica empregadas. Existem tratamentos com tempo de sessão pré-fixados pelo profissional como, por exemplo, de 50 minutos, e aqueles com tempo variado, que duram menos ou mais. A questão é que o tempo da sessão não é requisito fundamental para a sua qualidade, e sim a interação e as intervenções – estas sim têm papel crucial no tratamento.

Qual a diferença do psicólogo para o psicanalista?

O psicólogo é um profissional bacharel em Psicologia e registrado obrigatoriamente em Conselho profissional. Ele fez uma formação generalista durante cinco anos e pode atuar em diferentes contextos como escolas, clínicas, unidades de saúde, centros de assistência social, nos esportes etc. Sua formação é permanente, com grupos de estudos, pós-graduações, supervisões, participação em eventos, assim como estar submetido a sua própria psicoterapia, em alguns casos.

O psicanalista é alguém que estuda e pratica a Psicanálise, independentemente de sua graduação, e atua, geralmente, na clínica. A formação permanente no campo da Psicanálise inclui, obrigatoriamente, a análise pessoal, condição fundamental para a formação do psicanalista, assim como os estudos, supervisões, inserção em instituição psicanalítica, realizações de pós-graduações, participação em eventos. Não existe uma graduação ou curso que garanta a formação de um psicanalista, pois esta não é uma profissão e sim uma prática.

Em resumo, um psicólogo pode utilizar como técnica a abordagem da psicanálise ou de outra teoria, tais como a abordagem comportamental, a centrada na pessoa ou a terapia da gestalt, e um psicanalista pode ser graduado em psicologia ou outra profissão, como medicina, filosofia, letras.

Qual a diferença entre psicoterapia, terapia e análise?

Terapia é o sufixo de tratamentos que visam a melhoria da condição de uma pessoa, como a farmacoterapia, a psicoterapia e a fisioterapia. Na Psicologia, por costume, falamos terapia como sinônimo de psicoterapia, e vice-versa. A psicoterapia é uma prática voltada para a resolução de problemas, para a melhoria da qualidade de vida e para o autoconhecimento do paciente. Existem várias propostas de psicoterapia como a psicanalítica, a comportamental, a centrada na pessoa e a gestalt terapia, e isso modifica o tratamento realizado com o paciente.

Já a análise é o tratamento proposto pela Psicanálise, sendo uma forma de análise do psiquismo por meio das manifestações do inconsciente. Ela visa o reposicionamento do paciente diante de sua vida psíquica, entendendo que a dificuldade que ele vive é proveniente de conflitos subjetivos entre seus desejos e os processos sociais interiorizados. Ao passo que a pessoa se analisa, ela se aproxima de uma posição desejante e tem mais liberdade para lidar com o que vive.

Assim, a psicoterapia é a terapia psicológica, e existem diferentes tipos de psicoterapias. A análise pode ser considerada uma psicoterapia psicológica, mas de fato ela é uma proposta de análise dos processos inconscientes.

Fazer tratamento com psicólogo é mais rápido que fazer com psicanalista?

Esta é uma ótima pergunta. Para começar, não existe um tratamento psicológico único, mas uma variedade. Dentre estes, existem os focados no problema ou no sintoma, que tendem a ser mais rápidos, e existem os focados no autoconhecimento e no contato consigo, mais abrangentes, e que são mais demorados. Quanto mais rápido é o tratamento, mais ele é focado na redução dos sintomas e na resolução direta dos problemas. Quanto mais prolongado, mais ele realiza um trabalho aprofundado no psiquismo, modificando-o como um todo diante da vida. Então, pode-se dizer que há, sim, tratamentos psicológicos mais rápidos que os psicanalíticos, mas menos abrangentes e que podem ser menos eficientes também. Uma conclusão interessante é que é importante pensar qual proposta de tratamento você se interessa por realizar.

Os psicólogos medicam?

Não. Os profissionais que medicam são os médicos e os psiquiatras. Isto, contudo, não impede que uma pessoa faça tratamento psicológico e farmacológico em conjunto.

Psicólogo é parecido com psiquiatra?

O psiquiatra é um médico que fez uma residência ou especialização em psiquiatria. Um aspecto que aproxima psicólogos e psiquiatras é o de que ambos trabalham com o campo dos processos psíquicos, cada qual com uma proposta específica e que podem se complementar.

Um tratamento psicológico é uma conversa?

É uma conversa porque envolve a interação do profissional com o paciente, mas não é uma conversa comum, pois ela é dirigida para determinados aspectos que são importantes e que produzem efeitos significativos na vivência do paciente. Um tratamento psicológico inclui o acolhimento, a escuta das queixas e demandas, a intervenção com apontamentos, reflexões, dinâmicas etc, de modo a reposicionar o paciente em sua vida. Nos tratamentos de crianças, existe a especificidade de se utilizar de brinquedos e desenhos para propiciar essa conversa.

No caso da Psicanálise, o início do tratamento inclui a apresentação da “associação livre”, convidando o paciente a falar livremente tudo o que lhe passa pela cabeça, produzindo uma redução do seu juízo moral/valorativo sobre si mesmo e aumentando o material de trabalho das sessões, por incluir o material espontâneo dos seus pensamentos, como memórias, ideias absurdas, trocas e erros de palavras, esquecimentos, sonhos etc. O psicanalista intervém pontuando, situando e interpretando o que paciente diz, desconstruindo a configuração que este trouxe inicialmente e possibilitando uma posicionamento desejante e de maior liberdade diante de seu funcionamento psíquico.

Quanto tempo dura um tratamento psicológico?

Provavelmente, a melhor resposta para essa pergunta é: “o tempo que for necessário”. Com exceção de algumas terapias com duração breve e programada, os demais tratamentos psicológicos são dificilmente calculáveis quanto ao tempo de duração. Alguns aspectos podem ser considerados como intervenientes no tempo do tratamento: se for uma terapia ou uma análise, os objetivos serão diferentes e o tempo de duração também; o envolvimento do paciente no tratamento e o quanto ele dispõe de sua motivação para lidar com o que vivencia; a formação do profissional e sua capacidade de intervir no que o paciente lhe traz; a demanda do paciente e seu desdobramento durante o tratamento; o aspecto financeiro para realizar o tratamento etc.

Tem algum jeito de eu melhorar rapidamente?

Esta é uma pergunta bastante tênue. Geralmente, pensamos o sofrimento psíquico como se fosse uma dor física, acreditando que é possível resolvê-lo rapidamente, o que é um engano. Inclusive, há também dores físicas que não se resolvem facilmente. Além disso, não temos garantia, no âmbito psicológico, de que as ações que melhoram a condição subjetiva de uma pessoa necessariamente melhorarão a condição de outra. Há indícios, mas não certezas.

Lembramos, ainda, que a melhora psicológica não significa que não haverá mais sofrimento ou dificuldade. O fim de um relacionamento, a perda de um filho, a demissão do trabalho, uma decisão crucial na vida, os maus tratos familiares ou o abuso sexual, por exemplo, não deixarão de existir como memória após um tratamento. Eles podem perder ou reduzir o efeito que provocavam na pessoa, mas isto não a impedirá de lembrar e de sofrer diante do que viveu.

Concluindo, então, tem jeito de melhorar rapidamente sim, mas ninguém tem controle sobre isso, a melhora não é idêntica à forma como gostaríamos, e ela também depende da vivência do paciente e de seu envolvimento no tratamento, aspectos de grande importância.

Você tem alguma pergunta que gostaria de fazer ou alguma dúvida quanto às respostas dadas?
Diga nos comentários que responderemos em seguida.

Flávio Mendes,
psicólogo psicanalista em Vitória/ES.

Observações:
Assumimos a responsabilidade pela escrita e correção do texto e agradecemos o suporte com o trabalho de revisão a Bianca Martins, Bruna Quintanilha, Gabrielle Lucio, Mariana Kling e Renata Henriques. O texto está aberto a revisões e a inserção de novas perguntas.

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comentários

Join the discussion 8 Comentários

  • Josélia Alves Oliari disse:

    Parabéns pelo texto!

  • Paulo afonso Gonçalves de Oliveira disse:

    parabéns Sergio. o texto é bem abrangente e me deu respostas necessárias. Grato.

    • Joelma souza - Psicanalista clinica disse:

      Quao satisfatorio fora as perguntas e simultaneamente com muita clareza as respostas…parabens!

  • Fernando Lima disse:

    Parabéns Flavio pelo texto. Muito interessante para os marinheiros de primeira viagem rsrsrs…
    Então, aos 61 anos penso seriamente em fazer este um curso de psicanálise. Diria que só agora reconheci este potencial.
    Na sua opinião, me fale algumas vantagens e desvantagens considerando a idade, sabendo que tenho uma facilidade de lidar com pessoas e que pretendo exercer. Obg

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